
Nos últimos meses, o debate sobre a obrigatoriedade do seguro rural para acesso ao crédito agrícola subsidiado ganhou força nos bastidores do setor e chegou à mídia especializada. A proposta levanta uma pergunta essencial: estamos preparados para transformar o seguro rural em um pré-requisito para o financiamento da produção agrícola no Brasil?
Com mudanças climáticas mais frequentes e severas, aumento das perdas no campo e orçamentos públicos pressionados, a ideia de tornar o seguro obrigatório parece, à primeira vista, uma medida lógica. Mas a complexidade dessa decisão exige uma análise cuidadosa dos desafios operacionais, regulatórios e estruturais que envolvem o sistema atual.
O que significaria tornar o seguro rural obrigatório?
A proposta consiste em condicionar o acesso ao crédito rural subsidiado (especialmente no âmbito do Plano Safra) à contratação de um seguro agrícola, seja tradicional ou paramétrico. Essa exigência já existe parcialmente em programas como o Proagro, mas passaria a ser mais ampla e estruturante.
O principal objetivo da obrigatoriedade seria proteger os recursos públicos usados para subsidiar o agro e criar resiliência financeira no campo. No entanto, essa mudança poderia impactar diretamente pequenos e médios produtores, cooperativas, bancos, seguradoras e corretores.
Estamos preparados para essa mudança?
Esse é o ponto mais sensível. Atualmente, menos de 8% da área plantada no Brasil está segurada, segundo dados do setor, número muito inferior ao de países como os EUA (com mais de 90% de cobertura). Essa baixa adesão tem múltiplas causas:
- Falta de familiaridade do produtor rural com o produto.
- Elevado custo das apólices, mesmo com o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR).
- Infraestrutura técnica insuficiente para análise e vistoria em grande escala.
Tornar o seguro obrigatório sem resolver esses gargalos pode gerar distorções e excluir da política pública quem mais precisa de apoio.
Corte no orçamento do PSR
Em 2025, o Governo Federal anunciou o corte de mais de 40% do orçamento do PSR, reduzindo os subsídios para contratação de seguro rural. Em julho, uma liberação emergencial de R$ 360 milhões buscou corrigir parcialmente essa situação, mas o episódio reforça a fragilidade do modelo atual.
Afinal, como tornar o seguro obrigatório sem garantir recursos adequados para subsidiá-lo? Essa tensão entre necessidade e viabilidade é uma das grandes contradições do momento.
Quais as oportunidades para financiadores e seguradoras?
Apesar das incertezas, a obrigatoriedade do seguro rural abre novas possibilidades de atuação para bancos, cooperativas e seguradoras, como:
- Ampliação da base de clientes para o seguro rural, incluindo pequenos produtores que hoje estão fora do radar.
- Maior previsibilidade e redução do risco nas carteiras de crédito.
- Desenvolvimento de novos produtos, como seguros paramétricos, que reduzem custos operacionais e são mais viáveis em áreas remotas.
- Fomento à inovação tecnológica no agro, com mais dados e ferramentas para gestão de risco.
Qual o papel da tecnologia nesse cenário?
A viabilidade de um sistema de seguro rural mais abrangente e eficiente depende da capacidade do setor em monitorar, analisar e validar grandes volumes de dados em tempo real.
É nesse ponto que a tecnologia se torna aliada estratégica, e que a Audsat entra como uma peça essencial dessa equação:
- Utilizando imagens diárias da constelação Planet, com resolução de até 3 metros, conseguimos monitorar a evolução das lavouras em tempo real, identificar quebras, falhas de plantio e eventos climáticos adversos.
- Nossas soluções permitem validar aderência ao ZARC, compliance ambiental (CMN 5.193/24), ESG e conformidade com regulamentos como o EUDR.
- Geramos relatórios de sensoriamento remoto, com evidências visuais, que podem fundamentar decisões técnicas e jurídicas em caso de sinistros ou contestações.
- Com base histórica desde 2026, apoiamos tanto o seguro tradicional quanto o paramétrico, reduzindo riscos de base e viabilizando operações em locais antes desassistidos.
Conclusão: avanço inevitável, mas com responsabilidade
A discussão sobre o seguro rural obrigatório é válida, urgente e necessária, mas também complexa. Sua implementação precisa ser acompanhada de políticas públicas robustas, capacitação técnica e soluções tecnológicas escaláveis.
Mais do que uma exigência legal, o seguro rural pode (e deve) ser uma ferramenta estratégica de proteção de renda e estímulo à produção sustentável.
A Audsat segue comprometida em contribuir com essa transformação por meio de dados confiáveis, inteligência geoespacial e ferramentas que fortalecem a segurança técnica, jurídica e financeira das operações de crédito e seguro rural.